Posto aqui, um poema de Antonio Gonçalves da Silva,
o Patativa do Assaré,
o maior poeta popular que esta mundo já conheceu,
orgulho de todo cearense
(O poema usa linguagem informal)
O boi Zebu e as formigas
Um boi Zebu certa vez
Moiadinho de suo,
Querem sabê o que ele fez
Temendo o calor do só?
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.
Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Suas foia carregando
Paciente trabaiando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com ninguém
Se ninguém mexe com ela.
Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começaram a se acanhá
E foro se reunindo
Nas perna do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra ele nada senti.
Ma porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiando
O zebu foi se aperriando
com os casco no chão batia.
Mas porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.
Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais força incorporava,
o valentão não aguenta
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.
Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
"Vamo minhas camarada
Acabá com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somo muito mieiro
E este zebu é só um".
Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.
Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
O zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada qual tem seu direito
Até nas leis da natureza
As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E essas formiga é o povo.