segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os escravos tinham folga semanal?

Imagem: http://clovisescola.blogspot.com/2010/02/escravidaa-no-brasil-parte-iii.html

Assistindo 'Sinhá Moça' nas tardes da Globo, pus-me a refletir na vida desgraçada dos escravos no Brasil, e me surgiu esta pergunta:

Os escravos tinham folga semanal?

Em se tratando os senhores em boa parte "religiosos" pensei: Talvez guardassem o domingo, ou sábado...

Pensei em meu amigo Saulo, especialista em coisa que ninguém sabe ou quer saber, mas ao interrogá-lo, para minha surpresa ele também não sabia.

Resolvi então googlar e encontrei o texto abaixo no site www.cliohistoria.hpg.ig.com.br.
É um comentário sobre um livro de Mary C. Karasch, professora de História na Universidade de Oakland, Rochester, Michigan (EUA). O texto é tão envolvente que resolvi transcrevê-lo todo para aqui (Coloquei em negrito a resposta para a interrogação tema deste post).

============= Início da transcrição =============
A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro
Mary C. Karasch.
Trad. Pedro Maia Soares.
Companhia das Letras, 643 págs.

Baseado em ampla pesquisa documental, "A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro" faz estudo revelador sobre a escravidão no sec. 19
Liberdade obsedante
Marco Antonio Villa

A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro", de Mary C. Karasch é, seguramente, um dos mais importantes livros sobre a história da escravidão no Brasil. Depois de mais de uma década de publicações onde foram enfatizadas supostas fissuras no regime escravocrata, que teriam permitido aos cativos viver em condições razoáveis e obter a liberdade com relativa facilidade, Karasch, pesquisando a escravidão urbana no Rio de Janeiro entre 1808 -com a chegada da corte portuguesa- e 1850 -quando foi interrompido o tráfico de escravos-, demonstra, com base em ampla pesquisa documental, justamente o contrário.
O Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século 19 teve a maior população urbana de escravos das Américas. Pelo seu mercado de escravos passou quase 1 milhão de africanos, a maioria formada por crianças e adolescentes. Depois da longa viagem pelo Atlântico, chegavam magros e doentes. Alguns, devido às epidemias de oftalmia, contraídas nos tumbeiros, desembarcavam cegos, mas mesmo assim eram levados para o mercado do Valongo.

A vida dos escravos era marcada pelo trabalho estafante, com jornadas de 18 horas, que se estendiam por seis ou sete dias por semana: raros eram os senhores que concediam o descanso semanal de um dia inteiro livre.

Qualquer manifestação de desagrado era severamente punida. O açoite de quatro ou cinco pontas era utilizado usualmente para punir os escravos. Depois de dezenas ou até centenas de chibatadas, o escravo tinha o corpo lavado com vinagre e pimenta: pelo "serviço" de cem chibatadas, o senhor pagava ao carrasco 160 réis.
Posteriormente, o escravo recebia uma argola de ferro com um tridente, colocada na cabeça, e uma corrente de ferro na perna. Devido aos castigos, abriam-se feridas e os escravos contraíam o tétano. Pessimamente alimentados, vestidos com pouca roupa, assolados pelos violentos castigos, morando em ambientes insalubres e trabalhando ininterruptamente, não conseguiam resistir às doenças: a "cidade maravilhosa" devorava os negros. A mortalidade entre os cativos era muito alta. Muitos senhores abandonavam os escravos agonizando ou mortos pelas praças e ruas do Rio -como faziam com o lixo doméstico- para não terem gastos com o enterro.
Os milhares de africanos foram buscando formas de resistir à escravidão através da deserção, resistência violenta e da alforria. Mas, como lembra a autora, se os caminhos variavam, o objetivo era sempre o mesmo: "Fugir da escravidão e retornar à África". Os escravos, nas suas atividades, de acordo com o relato dos viajantes, cantavam em todas as ocasiões possíveis. Um deles, registrou uma destas canções: "Vou carregando por meus pecados/ Mala de branco p'ra viajar,/ Quem dera ao Tonho, pobre negro,/ P'ra sua terra poder voltar!".
A busca da liberdade era uma obsessão para os africanos. Muitos chegavam a realizar durante anos trabalhos suplementares, para com suas economias comprar a liberdade de suas esposas e filhos. Outros, como não tinham recursos suficientes para comprar a sua liberdade, adquiriam escravos recém-chegados da África que eram vendidos por um preço mais baixo e, depois de educados e aculturados, eram trocados pela sua própria liberdade. Raros foram os senhores que concediam liberdade aos seus escravos: muitos optavam pela alforria condicional, que podia ser revogada a qualquer momento. Em um dos casos citados, uma viúva revogou a concessão da alforria depois de 16 anos. Como ressalta Karasch, o "africano típico importado para o Rio de Janeiro entre 1808 e 1850 morria escravo".
Depois da leitura de "A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro", causa ainda maior estranheza as afirmações de Gilberto Freyre em "Interpretação do Brasil", publicado em 1947, de que os escravos tinham férias de 30 dias ao ano, realizavam livremente suas festas, não eram separados dos seus filhos e mulheres, alguns recebiam a mesma educação que os senhores davam aos seus filhos e viviam em melhores condições que os operários europeus.

Marco Antonio Villa é professor de história da Universidade Federal de São Carlos e autor, entre outros, de "Vida e Morte no Sertão - História das Secas do Nordeste nos Séculos 19 e 20.
[1]

============ Fim da transcrição ============

Continuando minha pesquisa, identifiquei que, no Ceará, a Vila de Acarape recebeu o nome de Redenção, por ter sido a primeira cidade brasileira a libertar todos os seus escravos.
imagem: http://blogdoedilson.com.br/

Que em 1882 foi dado o primeiro passo para a abolição no Brasil com a criação da "Sociedade Redentora Acarapense".
Que em 1 de janeiro de 1883, chegavam à então Vila Acarape, abolicionistas como (Veja os nomes dos heróis, todos nomes de ruas em Fortaleza e que eu não conhecia (santa-internet!!!)):

imagem:http://www.fortalezanobre.com.br/
Sociedade abolicionista cearense (tentei identificar cada um mas não consegui)

Liberato Barroso (clique para ler seu discurso), Antônio Tibúrcio, Justiniano de Serpa, José do Patrocínio e João Cordeiro, com a finalidade de assistirem a alforria de 116 escravos do lugarejo. A partir daquele ato, em frente à igreja matriz local, não haveria mais escravos ali, ganhando a vila o nome de Redenção, pioneira em libertar seus escravos no País.
[2]

A escravidão, com certeza, é uma das coisas mais vergonhosas que já participamos.

Para saber mais:
http://clovisescola.blogspot.com/2010/02/escravidao-no-brasil-parte-i.html

[1]http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/livros/resenhas/vidaescravos.htm [2]http://pt.wikipedia.org/wiki/Reden%C3%A7%C3%A3o_%28Cear%C3%A1%29

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