Saía às quatros horas da manhã, a pé por dez quilômetros até Acarape para conseguir lugar sentado no trem que vinha de Crato com destino à Fortaleza. Era uma viagem cansativa e que somente neste percurso Acarape-Fortaleza, exigia disposição ao extremo. Era 1937.
sábado, 28 de junho de 2008
O velho e o trem
Saía às quatros horas da manhã, a pé por dez quilômetros até Acarape para conseguir lugar sentado no trem que vinha de Crato com destino à Fortaleza. Era uma viagem cansativa e que somente neste percurso Acarape-Fortaleza, exigia disposição ao extremo. Era 1937.
domingo, 22 de junho de 2008
Facilita
Comadre Joana sempre reclamou
Da minissaia que a filha tem
O namorado se invocou também.
E certo dia pra ela falou:
_Tua saia, Bastiana, termina muito cedo.
Tua blusa, Bastiana, começa muito tarde
Mas ela respondeu:
_ Oi, facilita...
Pra dançar o xenhenhém, oi, facilita
Pra peneirar o xerém, oi, facilita
Pra dançar na gafieira, oi, facilita
Pra mandar pra lavadeira, oi, facilita
Pra correr na capoeira, oi, facilita
Pra subir no caminhão, oi, facilita
Pra passar no ribeirão, oi, facilita
Eu vou pro Crato
É bom prestar atenção ao que diz um mestre para não passar vergonha:
Eu vou pro Crato
"Ah! O Cratinho é doce! Cratinho é terra boa! Todo mundo quer ir pra lá.
É... mas ninguém quer ir pro hoté.
Todo mundo quer se arrumar na casa de um parente.
Um diz que vai pra casa do Alencar, outro diz que vai prá casa de um parente.
Outro diz que vai pra casa de seu Pedro.
É... mas eles num gosta muito disso não...
Só se fizerem com eu, né?
Eu, quando vou me hospedar na casa do parente, eu levo um saco de farinha, levo um bode seco, uma dúzia de abacaxi, um capãozinho, um saco de piqui, uma cachacinha boa...
Ah.ah! Faça como eu, viu?
O parente fica satisfeito, depois você pode dizer que o "Cratinho" é de açucar, pode passear, pode se divertir no Crato(Ce)...
Mas faça como eu. Ah, ah!"
Letra completa em: http://vagalume.uol.com.br/luiz-gonzaga/eu-vou-pro-crato.html
terça-feira, 10 de junho de 2008
Ações bélicas
A turma toda estava apreensiva. Era dia da prova de língua portuguesa e esta tinha tudo para ser pior que as outras. Era possível ver a tristeza estampada em cada rosto. Motivo: Desta vez seria uma redação e o tema... surpresa.
Na verdade Língua Portuguesa parecia muito fácil quando o professor Valmir apresentava as questões com aquelas frases feitas na aula, porém, na hora da avaliação as frases pareciam tiradas de um livro de filosofia ou física quântica.
_ Boa tarde! Disse o mestre, sorridente como sempre.
Sem mais delongas escreveu no quadro-verde: “REDAÇÃO - Tema: Ações bélicas”
_...
_...
Formou-se um silêncio. Todos baixaram a cabeça fitando o papel. Ainda de cabeça baixa olhei de lado pra ver se alguém fazia algum sinal de não estar entendendo nada, porém ninguém se manifestou. Esperava ver toda a classe se entreolhando e erguendo os ombros como quem pergunta “que raios é bélico?”. Nada.
Percebi que todos já escreviam e que esta dúvida era exclusivamente minha; talvez tivesse faltado à aula no dia que o pedagogo falou sobre “as coisas bélicas”.
Não era muito ruim de redação. Talvez não conhecesse a estrutura, o tal de começo, meio e fim, mas não me desesperava se era pra escrever sobre algo que eu tivesse o mínimo de conhecimento. Pois é... O mínimo de conhecimento. Decididamente bélico não se enquadrava nesse mínimo, e o pior é que a turma continuava escrevendo a todo vapor e não parecia encontrar dificuldades no tema.
Minha timidez, no entanto, não me permitia levantar a voz perante toda a sala de aula e eliminar a questão que surgiu.
_Não tem jeito _ pensei _ o melhor a fazer é partir pra etimologia.
Na verdade não é muito difícil entender a origem das palavras. Como diria a trupe Os melhores do mundo: “É só prestar um pouco de atenção” pois geralmente isto é muito intuitivo. Bélico, por exemplo, obviamente tem origem no adjetivo belo, logo, bélico nada mais é que qualidade do que é belo.
_ Heureca! Matei a charada.
Pus-me a escrever sobre o que veio à mente,
_ Que tema amplo! Crianças ajudando velhas senhoras a atravessar a rua... Um bom dia ao desconhecido que passa... Avisar sobre a carteira que acabou de cair do bolso daquele caixeiro da venda... Não pagar mal com mal, mas oferecer a outra face...
O fato é que já se passava uns cinco minutos e ia pra lá da vigésima linha quando alguém perguntou em apenas um lance:
_ Professor Valmir! O que é bélico?
Levantei um pouco os olhos para não me escapar a resposta caso ele respondesse baixo, assim, eu poderia tentar ler os seus lábios. A resposta veio em bom tom.
_ Bélico é aquilo relativo ou pertencente à guerra _ respondeu o mestrado que naquele momento parecia ter engolido o Aurélio.
_ Ah! _ disse o colega que fizera a pergunta, e se calou.
_...
Meio envergonhado, virei silenciosamente a página do caderno e escrevi outra vez o título enquanto buscava nas lembranças de filmes vespertinos novos argumentos para a dissertação.
O silêncio na classe continuou, mas aos poucos era quebrado por barulho de folhas de papel que eram dobradas, destacadas, amassadas e sorrateiramente postas nos bolsos.
Adolfo Lima, 07 de junho de 2008