sábado, 1 de maio de 2021

Boêmio Demodê


 Imagem: "Serenata" de Candido Portinari 1959

 1970. O homem acabara de pisar na lua com o projeto "Apolo 11'' e o poeta percebe um "problema": O carisma da lua misteriosa tantas vezes retratada pelas pessoas dos versos estava agora ameaçado com seus segredos sendo desvendados. A lua que inspirava os poetas e servia de tema aos boêmios (juntamente com "pinga") estava perdendo seu romantismo e isso exigia medidas urgentes.

Interessante observar que Adelino Moreira, o poeta, não se sente ameaçado pelo modernismo mas que precisa adequar-se ao novo momento: Precisa incluir novos temas na seresta(...Misturar os tratamentos, juntar o tu com você...), e excluir os atuais ((minha seresta)...não terá luar nem lua, ...sem marquise e sem calçada, ...sem culto de mulher amada... sem viola e violão.). Além de resiliente, o poeta também se mostra confiante em seu novo modelo de seresta acreditando que ela será até premiada (...minha seresta vai ganhar placa de bronze, pois nem mesmo Apolo onze é mais moderno que ela.). Muito bom, isso!

No final da postagem linquei um vídeo onde o Paulo Vinícius (muitas vezes confundido como Nelson Gonçalves) canta de forma magnífica esta canção.


Boêmio Demodê


Vou fazer uma seresta, Moderninha como quê,

Misturar os tratamentos, Juntar o tu com você,

Eu não quero que me chamem, Um boêmio demodê.


Com acordes dissonantes, Sem marquise e sem calçada,

Sem culto de mulher amada, Na penumbra do balcão,

Seresta ultra moderna, Sem viola e violão.


Minha seresta, Não terá pinga na rua,

Não terá luar nem lua, E nem lampião de gás,

Porque a lua, Nesses tempos agitados,

Já não é dos namorados, Romantismo não tem mais.


Minha seresta, Nesta era espacial,

Vai se tornar imortal, Na voz daquele ou daquela,

Minha seresta, Vai ganhar placa de bronze,

Pois nem mesmo Apolo onze, É mais moderno que ela.


Composição: Adelino Moreira




Assista no Youtube na voz de Paulo Vinícius: Clique aqui.


Fontes: 

Adelino Moreira – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

https://artsandculture.google.com/asset/serenata/3QGVhFcaXhY-Uw


terça-feira, 22 de julho de 2014

O lixo

Imagem: Ilustração de Adalberto Cornavaca para o livro "Histórias de humor" da Editora Scipione

Luis Fernando Veríssimo


Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu
lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

VERÍSSIMO, Luís Fernando. O analista de Bagé. RJ: Objetiva. 2002.

          Conheci o humor de Fernando Veríssimo através da TV, mais precisamente pela série "A comédia da vida privada". Era um programa muito agradável, divertido. Não era como um filme de Harold Lloyd(1) ou Jerry Lewis(2) em que você rola de rir... decididamente não era; mas um humor que nos fazia feliz simplesmente pela oportunidade de ver ali retratada a graça do dia a dia de pessoas comuns em situações possíveis como no episódio "Parece que foi ontem", e algumas vezes até em situações surreais como no episódio "A grande noite". Procure ver estes episódios.

          Virei fã deste filho de Érico Veríssimo (também escritor com obras como "Olhai os lírios do campo", "O tempo e o vento" e muitas outras)  e o texto "O lixo" transcrito acima é um de meus favoritos; por esta razão registro aqui.

(1) Para ver Harold Lloyd: https://www.youtube.com/watch?v=GIJygFYiDHw
(2) Para ver Jerry Lewis: https://www.youtube.com/watch?v=4QH2tuHwo_0

sábado, 5 de julho de 2014

Crise Masculina

imagem: http://2.bp.blogspot.com


Crise masculina

Quando eu completei 25 anos de casado , introspectivo, olhei para minha esposa e disse:
- Querida, há 25 anos atrás nós tínhamos um fusquinha, um apartamento caindo aos pedaços, dormíamos em um sofá-cama e víamos televisão em uma TV preto e branco de 14 polegadas. Mas, todas as noites, eu dormia com uma loira de 25 anos.
E continuei:
- Agora nós temos uma mansão, duas Mercedes, uma cama super King size e uma TV de plasma de 50 polegadas, mas eu estou dormindo com uma senhora de 50 anos. Parece-me que você é a única que não está evoluindo.

Minha esposa, que é uma mulher muito sensata, disse-me então, sem sequer levantar os olhos do que estava fazendo:

- Sem problemas. Saia de casa e ache uma loira de 25 anos de idade que queira ficar com você. Se isso acontecer, com o maior prazer eu farei com que você, novamente, consiga viver em um apartamento caindo aos pedaços, durma em um sofá-cama e não dirija nada mais do que um fusquinha.

Sabe que fiquei curado da minha crise de meia-idade?
Essas mulheres mais maduras são realmente demais!

Autor desconhecido

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Frases soltas


http://br.web.img3.acsta.net/r_640_600/b_1_d6d6d6/medias/nmedia/18/36/23/54/18817849.jpg
Li que Paulo Vanzolini, quando escreveu a música “volta por cima” quis colocar uma frase forte e imaginou:
“Reconhece a queda e não desanima...”; e só pra rimar (como diria o Aroldo, meu irmão) completou a frase com qualquer coisa que veio à cabeça:
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.”
A música foi um sucesso, mas a frase que pegou foi a que foi posta por acaso (“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.”). (1)
Tenho aprendido a observar o que é dito em músicas e filmes e percebo que existem verdadeiras pérolas soltas ou perdidas neste meio. Coisas são ditas sem destaque algum e simplesmente ficam perdidas. Vou tentar lembrar algumas.

No filme “Os sem floresta”, quando os animais passam a cerca viva para conhecer o “progresso”, dá de cara com uma camioneta Jeep Cheroki e a tartaruga, não escondendo o espanto ao ver tão grande carro, pergunda ao guaxinim RJ (“guia” do passeio)”Nossa... O que é isto?” - E RJ responde que aquilo é um veículo. Então a tartaruga pergunta se cabem muitos humanos dentro daquele transporte; a resposta vem do guaxinim que meio encabulado diz:
Geralmente... um!”
Uma tremenda crítica social em tempos que se fala tanto em aquecimento global, uma demonstração de que não estamos fazendo muito. (2)

O colunista social cearense, Lúcio Brasileiro, na TV Jangadeiro, disse em uma das chamadas de seu programa dominical, virando-se para uma das câmeras:
“Câmera dois. Não confunda grosseria... com sinceridade”.
Alusão às pessoas que insiste em serem grosseiras usando a máscara da sinceridade (geralmente dizem ser sinceras e que falam o que pensam... Pura grosseria).

Para concluir, o pernambucano Acioly Neto, na música “A natureza das coisas” lindamente cantada por Flávio José, diz:
Se avexe não, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada...”. (Avexe = Apresse)
Profundo, né? Eu diria que filosófico.
E disse ainda:
Se avexe não, que a burrinha da felicidade nunca se atrasa...”. (3)
Bom, esta da burrinha eu não entendi... (como foi que esta burrinha entrou na estória?)
Deve ser coisa de pernambucano, alguma expressão de lá a qual a origem desconheço. Talvez só outro de Pernambuco para esclarecer isto.
Abraço a todos. Valeu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os escravos tinham folga semanal?

Imagem: http://clovisescola.blogspot.com/2010/02/escravidaa-no-brasil-parte-iii.html

Assistindo 'Sinhá Moça' nas tardes da Globo, pus-me a refletir na vida desgraçada dos escravos no Brasil, e me surgiu esta pergunta:

Os escravos tinham folga semanal?

Em se tratando os senhores em boa parte "religiosos" pensei: Talvez guardassem o domingo, ou sábado...

Pensei em meu amigo Saulo, especialista em coisa que ninguém sabe ou quer saber, mas ao interrogá-lo, para minha surpresa ele também não sabia.

Resolvi então googlar e encontrei o texto abaixo no site www.cliohistoria.hpg.ig.com.br.
É um comentário sobre um livro de Mary C. Karasch, professora de História na Universidade de Oakland, Rochester, Michigan (EUA). O texto é tão envolvente que resolvi transcrevê-lo todo para aqui (Coloquei em negrito a resposta para a interrogação tema deste post).

============= Início da transcrição =============
A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro
Mary C. Karasch.
Trad. Pedro Maia Soares.
Companhia das Letras, 643 págs.

Baseado em ampla pesquisa documental, "A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro" faz estudo revelador sobre a escravidão no sec. 19
Liberdade obsedante
Marco Antonio Villa

A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro", de Mary C. Karasch é, seguramente, um dos mais importantes livros sobre a história da escravidão no Brasil. Depois de mais de uma década de publicações onde foram enfatizadas supostas fissuras no regime escravocrata, que teriam permitido aos cativos viver em condições razoáveis e obter a liberdade com relativa facilidade, Karasch, pesquisando a escravidão urbana no Rio de Janeiro entre 1808 -com a chegada da corte portuguesa- e 1850 -quando foi interrompido o tráfico de escravos-, demonstra, com base em ampla pesquisa documental, justamente o contrário.
O Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século 19 teve a maior população urbana de escravos das Américas. Pelo seu mercado de escravos passou quase 1 milhão de africanos, a maioria formada por crianças e adolescentes. Depois da longa viagem pelo Atlântico, chegavam magros e doentes. Alguns, devido às epidemias de oftalmia, contraídas nos tumbeiros, desembarcavam cegos, mas mesmo assim eram levados para o mercado do Valongo.

A vida dos escravos era marcada pelo trabalho estafante, com jornadas de 18 horas, que se estendiam por seis ou sete dias por semana: raros eram os senhores que concediam o descanso semanal de um dia inteiro livre.

Qualquer manifestação de desagrado era severamente punida. O açoite de quatro ou cinco pontas era utilizado usualmente para punir os escravos. Depois de dezenas ou até centenas de chibatadas, o escravo tinha o corpo lavado com vinagre e pimenta: pelo "serviço" de cem chibatadas, o senhor pagava ao carrasco 160 réis.
Posteriormente, o escravo recebia uma argola de ferro com um tridente, colocada na cabeça, e uma corrente de ferro na perna. Devido aos castigos, abriam-se feridas e os escravos contraíam o tétano. Pessimamente alimentados, vestidos com pouca roupa, assolados pelos violentos castigos, morando em ambientes insalubres e trabalhando ininterruptamente, não conseguiam resistir às doenças: a "cidade maravilhosa" devorava os negros. A mortalidade entre os cativos era muito alta. Muitos senhores abandonavam os escravos agonizando ou mortos pelas praças e ruas do Rio -como faziam com o lixo doméstico- para não terem gastos com o enterro.
Os milhares de africanos foram buscando formas de resistir à escravidão através da deserção, resistência violenta e da alforria. Mas, como lembra a autora, se os caminhos variavam, o objetivo era sempre o mesmo: "Fugir da escravidão e retornar à África". Os escravos, nas suas atividades, de acordo com o relato dos viajantes, cantavam em todas as ocasiões possíveis. Um deles, registrou uma destas canções: "Vou carregando por meus pecados/ Mala de branco p'ra viajar,/ Quem dera ao Tonho, pobre negro,/ P'ra sua terra poder voltar!".
A busca da liberdade era uma obsessão para os africanos. Muitos chegavam a realizar durante anos trabalhos suplementares, para com suas economias comprar a liberdade de suas esposas e filhos. Outros, como não tinham recursos suficientes para comprar a sua liberdade, adquiriam escravos recém-chegados da África que eram vendidos por um preço mais baixo e, depois de educados e aculturados, eram trocados pela sua própria liberdade. Raros foram os senhores que concediam liberdade aos seus escravos: muitos optavam pela alforria condicional, que podia ser revogada a qualquer momento. Em um dos casos citados, uma viúva revogou a concessão da alforria depois de 16 anos. Como ressalta Karasch, o "africano típico importado para o Rio de Janeiro entre 1808 e 1850 morria escravo".
Depois da leitura de "A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro", causa ainda maior estranheza as afirmações de Gilberto Freyre em "Interpretação do Brasil", publicado em 1947, de que os escravos tinham férias de 30 dias ao ano, realizavam livremente suas festas, não eram separados dos seus filhos e mulheres, alguns recebiam a mesma educação que os senhores davam aos seus filhos e viviam em melhores condições que os operários europeus.

Marco Antonio Villa é professor de história da Universidade Federal de São Carlos e autor, entre outros, de "Vida e Morte no Sertão - História das Secas do Nordeste nos Séculos 19 e 20.
[1]

============ Fim da transcrição ============

Continuando minha pesquisa, identifiquei que, no Ceará, a Vila de Acarape recebeu o nome de Redenção, por ter sido a primeira cidade brasileira a libertar todos os seus escravos.
imagem: http://blogdoedilson.com.br/

Que em 1882 foi dado o primeiro passo para a abolição no Brasil com a criação da "Sociedade Redentora Acarapense".
Que em 1 de janeiro de 1883, chegavam à então Vila Acarape, abolicionistas como (Veja os nomes dos heróis, todos nomes de ruas em Fortaleza e que eu não conhecia (santa-internet!!!)):

imagem:http://www.fortalezanobre.com.br/
Sociedade abolicionista cearense (tentei identificar cada um mas não consegui)

Liberato Barroso (clique para ler seu discurso), Antônio Tibúrcio, Justiniano de Serpa, José do Patrocínio e João Cordeiro, com a finalidade de assistirem a alforria de 116 escravos do lugarejo. A partir daquele ato, em frente à igreja matriz local, não haveria mais escravos ali, ganhando a vila o nome de Redenção, pioneira em libertar seus escravos no País.
[2]

A escravidão, com certeza, é uma das coisas mais vergonhosas que já participamos.

Para saber mais:
http://clovisescola.blogspot.com/2010/02/escravidao-no-brasil-parte-i.html

[1]http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/livros/resenhas/vidaescravos.htm [2]http://pt.wikipedia.org/wiki/Reden%C3%A7%C3%A3o_%28Cear%C3%A1%29

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ser feliz


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Fernando Pessoa
Lisboa, 13 de junho de 1888
Lisboa, 30 de novembro de 1935

sábado, 26 de dezembro de 2009

O boi Zebu e as formigas



Imagem: http://www.uniblog.com.br/


Posto aqui, um poema de Antonio Gonçalves da Silva,
o Patativa do Assaré,
o maior poeta popular que esta mundo já conheceu,
orgulho de todo cearense
(O poema usa linguagem informal)

O boi Zebu e as formigas

Um boi Zebu certa vez
Moiadinho de suo,
Querem sabê o que ele fez

Temendo o calor do só?
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá

Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.

 
Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga

Veve em perfeita união

Suas foia carregando

Paciente trabaiando


Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com ninguém

Se ninguém mexe com ela.

 

Por isso com a chegada
Daquele grande animá

Todas ficaro zangada,

Começaram a se acanhá

E foro se reunindo
Nas perna do boi subindo,
   

Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava

Que no começo não dava
Pra ele nada senti.


Ma porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga

Começou a frivioca

E no corpo se espaiando

O zebu foi se aperriando

com os casco no chão batia.
Mas porém não miorava,

Quanto mai
s coice ele dava
Mais formiga aparecia.


Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,

O lombo do boi ardia

Mais do que na luz do só

E ele zangado as patada,

Mais força incorporava,
 

o valentão não aguenta
O zebu não tava bem,

Quando ele matava cem,

Chegava mais de quinhenta.

 

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:

"Vamo minhas camarada

Acabá com os capricho

Deste ignorante bicho


Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somo muito mieiro

E este zebu é só um".


Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia

Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa

No boi zebu se espaiando

Cutucando e pinicando
 
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga

Pruquê já tinha formiga

Até por dentro dos óio.

 

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio

O zebu saiu correndo

Fungando e berrando feio

E as formiga inocente

Mostraro pra toda gente

Esta lição de morá

Contra a farta de respeito
Cada qual tem seu direito

Até nas leis da natureza

 
As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê

Da sombra do juazêro,

Mostraro nessa lição

Quanto pode a união;
 

Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê

Que é os mandão do podê,

E essas formiga é o povo.






Tirinha do Snoop

Tirinhas do Zero

Tiras do Garfield